Política
Dólar atinge recorde histórico de R$ 6,267 em meio a preocupações com pacote fiscal e decisão do Fed
A cotação do dólar comercial encerrou esta quarta-feira (18) em R$ 6,267, marcando o maior valor nominal de sua história. O aumento de 2,82% no dia foi impulsionado por temores relacionados à desfiguração do pacote fiscal do governo no Congresso e pela decisão do Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, de reduzir sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, com previsão de mais duas reduções em 2025.
Contexto internacional e impacto no Brasil
O Fed indicou que suas taxas de juros permanecerão em níveis relativamente altos, o que reduz o apetite por investimentos em mercados emergentes como o Brasil. A segurança oferecida pelo mercado americano segue atrativa, apesar da Selic elevada no país. Essa conjuntura faz com que investidores prefiram manter seus recursos nos EUA, agravando a escassez de dólares no Brasil e pressionando a cotação.
Cenário doméstico: pacote fiscal e emendas parlamentares
A preocupação dos mercados também recai sobre as negociações do pacote de corte de gastos no Congresso. A câmara aprovou, na terça-feira (17), o texto-base do primeiro projeto, mas partes importantes do pacote foram retiradas ou modificadas, como a limitação para restituição de créditos tributários. Outras medidas, como o bloqueio de até 15% das emendas parlamentares, permanecem em discussão no Senado, com previsão de votação até sexta-feira (20).
A Fazenda projeta que as medidas gerem uma economia de R$ 71,9 bilhões em dois anos, mas especialistas contestam esse número, estimando um impacto menor, entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões. A falta de clareza sobre os efeitos concretos do pacote aumenta a incerteza no mercado.
Reações e críticas
André Galhardo, consultor da Remessa Online, criticou o timing das intervenções do Banco Central brasileiro, que vendeu dólares no mercado durante o momento mais agudo da crise cambial. “Quando o BC entra tardiamente, passa a mensagem de que a situação pode piorar ainda mais”, afirmou Galhardo.
Bruno Nascimento, analista da B&T Câmbio, ressaltou a necessidade de avanços estruturais para conter a alta do dólar: “Uma contenção robusta da valorização do dólar depende de reformas concretas e uma postura mais firme em relação às metas fiscais.”
Histórico e ajustes inflacionários
Embora o valor atual seja o maior em termos nominais, ajustado pela inflação, o recorde real do dólar ocorreu em setembro de 2002, durante a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Corrigida para valores atuais, a cotação da época seria equivalente a R$ 8,75.
Queda da Bolsa de Valores
A instabilidade também refletiu na Bolsa de Valores de São Paulo, que encerrou o dia com queda de 2,38%, levando o Ibovespa para 121.730 pontos. A baixa foi influenciada pelo receio de que as medidas do pacote fiscal não sejam suficientes para controlar o déficit público.
Perspectivas
Com o Senado programado para votar novas medidas antes do recesso, a expectativa é de mais volatilidade no mercado. A reação do dólar e da Bolsa dependerá diretamente do resultado das discussões e da capacidade do governo de implementar uma agenda fiscal mais consistente.