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A herança milionária que virou papel sem valor: 32 milhões de Cruzados encontrados em mala após morte de pai em Araguaína

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Waluar Pereira Valadares mostra Cruzados que encontrou em mala após morte do pai — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Em um episódio curioso que tomou conta das redes, a história de uma herança milionária que acabou sem valor financeiro viralizou. Após a morte de Paulo Abreu, aos 77 anos, seus filhos encontraram uma mala contendo 32 milhões de Cruzados, moeda que circulou no Brasil entre 1986 e 1989. Se corrigido pela inflação, o montante equivaleria hoje a impressionantes R$ 23,6 milhões. No entanto, na prática, esse dinheiro vale apenas como item histórico.

O que aconteceu?

Waloar Pereira Magalhães e seus irmãos descobriram a fortuna inesperada durante a organização dos pertences do pai em Araguaína, Tocantins. Paulo Abreu, que foi garimpeiro, dentista e investidor em imóveis, tinha o hábito de guardar dinheiro em casa, desconfiado das instituições financeiras.

Segundo Waloar, o pai mantinha uma garrafa cheia de moedas à vista, mas a mala recheada de cédulas foi uma surpresa completa para a família. “Ele sempre dizia que confiava mais no que estava em casa do que no banco”, comentou Waloar.

A expectativa de ter encontrado uma verdadeira fortuna foi rapidamente frustrada: as cédulas de Cruzado não têm valor monetário desde 1989, quando o prazo para troca expirou. O Banco Central já não aceita a conversão, transformando o achado em um mero tesouro de memórias.

O valor “fictício” da herança

O economista Eduardo Araújo, conselheiro do Cofecon, fez um cálculo para estimar quanto os 32 milhões de Cruzados representariam hoje. Usando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), ele apontou que o valor corrigido pela inflação atingiria R$ 23,6 milhões.

No entanto, ele destaca que essa atualização é apenas uma forma de comparação histórica, sem qualquer possibilidade de resgate:

“Esse valor reflete o poder de compra da época. Mas, como as cédulas não têm mais validade, não há qualquer possibilidade de conversão.”

O economista ainda explicou que, caso o montante tivesse sido investido em aplicações conservadoras desde 1989, como na poupança ou em títulos públicos, o valor poderia ser ainda maior.

Cédulas de Cruzados herdadas pelos irmãos Valadares, em Araguaína — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Quanto valiam 32 milhões de Cruzados em 1988

Para contextualizar o impacto dessa quantia nos anos 80, o colecionador e membro da Sociedade Numismática Brasileira (SNB), Rafael Augusto, traçou um paralelo:

“Em 1988, com 3,8 milhões de Cruzados era possível comprar uma casa simples de madeira com dois quartos. Ou seja, a herança de Paulo Abreu daria para comprar pelo menos oito casas, sobrando dinheiro para mobiliar.”

Outro indicador é o salário mínimo da época. Em dezembro de 1988, o salário mínimo era de 40.425 Cruzados. A herança equivalia a 791 salários mínimos, valor suficiente para sustentar uma família por muitos anos.

A frustração da família

Após anos guardando as cédulas, Waloar Pereira decidiu buscar alternativas. Inspirado por uma reportagem sobre colecionadores de moedas, ele tentou vender as cédulas. Porém, a resposta não foi animadora.

Especialistas apontaram que as notas de Cruzado não são raras o suficiente para atrair o interesse do mercado numismático.

“Por terem sido produzidas em larga escala durante um período de hiperinflação, as cédulas de Cruzado são extremamente comuns. Cada nota vale, no máximo, entre 10 e 20 centavos para colecionadores. As moedas podem alcançar R$ 10 a R$ 20 por quilo”, explicou Rafael Augusto.

A descoberta, que inicialmente parecia um bilhete premiado, tornou-se uma história divertida e, para a família, uma lembrança do perfil desconfiado e prudente de Paulo Abreu.

O aprendizado que fica

Apesar de não ter gerado riqueza para os herdeiros, a história da mala de Cruzados serve como uma reflexão sobre a volatilidade das moedas e a importância de confiar nas instituições financeiras.

“Esse caso reforça a importância de acompanhar as mudanças econômicas e não deixar grandes quantias paradas em casa ou fora do sistema bancário. Infelizmente, o dinheiro que guardamos pode se tornar obsoleto se não prestarmos atenção nas trocas de moeda e nos prazos de conversão.” — Eduardo Araújo, economista.

Para os irmãos de Paulo Abreu, fica o consolo de saber que a herança do pai, mesmo sem valor financeiro, traz consigo um pedaço da história familiar e do Brasil dos anos 80.

Fonte: G1 Tocantins

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